segunda-feira, 16 de abril de 2007

Resenha do Texto “Ouvinte – O Oposto do Ser Surdo”, de Gladis Perlin e Ronice Muller de Quadros”

O texto busca identificar a diferença de ser surdo ou ouvinte a partir da discussão dos surdos.
Posicionando-se como surdo e olhando o ouvinte, este passa a ser o outro com sua diferença, alteridade e identidade.
É natural aos ouvintes presenciar situações tocantes devido a rupturas da diferença do ser surdo e do ser ouvinte. Estas rupturas colocam o ouvinte na condição de “outro” na representação cultural e no projeto do “outro normal”, modificando a visão anterior e “anormalidade do surdo” para a de “diferente”. Neste sentido, o ouvinte vai modificando sua experiência e abandona sua superior “normalidade” para iniciar a experiência de “outridade”.
Skliar ( 2002) discute a questão dea experiência do ouvinte que nasce entre ouvintes adquirindo experiência ouvinte e do surdo que nasce entre ouvintes e coloca-se diante da mudança de si.enfatizando que ser ouvinte é oposto de ser surdo.
Segundo as autoras, admitir a diferença no surdo é aceitar a diferença como ouvintes e a própria experiência como diferentes. Integra questão pessoal, de individualidade de ser.
A experiência vivida, pensada pelo próprio ouvinte, é diferente da vivida e pensada pelo surdo. A experiência dos ouvintes é mais centrada na troca com o outro ouvinte, neste ato de ser com a responsabilidade ético/cultural como ouvinte.
O problema do ouvicentrismo, atenta para todas as experiências vividas e pensadas com os ouvintes, mesmo quando os surdos foram excluídos das tomadas de decisões. Neste caso, as autoras referem-se aos “ouvintes exterminadores”, ou seja, aqueles que tentam acabar com a língua de sinais e cm todos os tipos de manifestações culturais advindas dos grupos de surdos.
Nas linguagem das relações atuais entre os surdos e ouvintes em alguns grupos, onde há o conhecimento, também há o respeito à diferença, estabelecendo-se um debate claro sobre a diferença do surdo, acompanhado pela aprovação de políticas e alternativas que emanam da diferença surda.
A lógica dos ouvintes passa a ser a do reconhecimento que há a civilização da fala, da escrita, da leitura e também a civilização dos surdos, da sinalização, da expressão corporal, do olhar.
A experiência da diferença relativiza as oposições. O ouvinte vê o surdo como aquele que tem uma cultura diferente. As leis, as identidades, as representações, as determinações não são mais baseadas na fala, na audição e os mecanismos disciplinares do ser ouvinte já não contribuem para criar um perfil com conotações de normalidade única.
Num mundo constituído pela normalidade, não é possível admitir o anormal sem uma profunda crise devido aos conhecimentos ideológicos gerados por essa normalidade.
A afirmação das diferenças como outro ouvinte está continuamente especificada através das narrativas dos surdos e é colocada como uma marca de diferenciação ainda mais marcada no dia a dia. Diferenciar implica em colocar o outro numa forma vazia de si, excluir-se.
O outro ouvinte na posição da alteridade surda, também evidencia diferença de ser, pois experencia a fala, a escrita, a leitura a lógica de ser ouvinte e a alteridade que este ouvinte não tem: ele é “privado” da tentativa de sinais expressivos e experiências visuais para tudo.
Nas narrativas surdas, vários tipos de ouvintes buscam exercer sua influência.
Há aqueles que querem transmitir de si, buscando convence-los que suas experiências ouvintes são fundamentais para os surdos. Estes nem conhecem a língua de sinais.
Há outros ouvintes outros ouvintes que usam a língua de sinais para convencer o surdo de sua inferioridade diante do modelo ouvinte. Há ainda outros que não entendem nada de surdos e língua de sinais. São indiferentes ao outro surdo.
Há o ouvinte que a partir de conceitos feitos pelos surdos, introduzem algumas mudanças, mas continuam com a idéia de normalidade-anormalidade. Envolvem-se com o outro surdo por ter ganhos profissionais com isto, mas não por conhece-los. Estes ouvintes, na visão dos surdos, são mais complicados de discutir e refletir sobre o ser surdo, pois sua visão de surdo está ligada à incapacidade, incompetência dentro de uma concepção determinista de ser com base na normalidade ouvinte.
Também há os ouvintes que, simpatizando com o surdo, tentam aprender um pouco da língua de sinais para se comunicarem, são os “ouvintes especiais”.
Há os que , simpatizando com os surdos, se impõem, pois se acham melhores do que eles. Há também os “caridosos”, os que abrem espaço, mas não ajudam os surdos a pensar, continuam sendo o centro, os fazedores de tudo.
Há ainda aqueles outros ouvintes que admitem a alteridade, a diferença de “ ser surdo” e junto a eles, os surdos estão alcançando maior tolerância e espaço para continuar sua distinção social como surdos. Narram e defendem a alteridade surda, entram na causa social surda, lutando por seu desenvolvimento cultural. São os ouvintes filhos de pais surdos, irmãos , pais ... pessoas que compartilham da experiência visual dos surdos.
Segundo as autoras, a vibração cultural do retorno ocorre quando se olha o outro ouvinte, nos encontramos assim diante da minoria de “outros ouvintes” aceitarem as narrativas, a situação e as características da causa social surda. É certo que os surdos vivem um intercâmbio de conhecimentos com os ouvintes, mas são criticados por estes ao assumirem uma postura surda.
É preciso inverter/verter momento sócio-escolares, possibilitando ao surdo entrar em contato com sua produção cultural e a principal forma de discussão social de sua diferença do seu ser o outro é o conhecimento.
O retorno do outro ouvinte precisa ser anunciado pelos surdos. Os surdos precisam expressar suas formas de ser: cultura, língua e conhecimento. Precisam ocupar seus espaços, conhecer sua diferença.



Webliografia:

http://www.sj.cefetsc.edu.br/~nepes/docs/midiateca_artigos/cultura_identidades_surdas/ouvinte_oposto_ser_surdo.pdf

Um comentário:

Yonilce Pamplona disse...

O artigo é bom, mais ficaria melhor se tivesse o ano da obra e o nome dos autores ao final.