segunda-feira, 16 de abril de 2007

Representações Históricas da Surdez

Na antigïdade , o sacrifício dos surdos e a obsessão pela beleza e perfeição; a vinculação da deficiência a discursos caritativos; a consideração da linguagem de sinais como algo proibido, vulgar e a fala como pré-requisito fundamental para tornar o homem civilizado, são paradigmas que nos mostram o desconhecimento e o preconceito existentes na sociedade de cada época, em relação à pessoa surda.
A atuação de pessoas como o monge beneditino Ponce de Leon, o médico italiano Girolano Cardano, o abade L’Epée, o médico psiquiatra Jean Itard , dedicando-se ao estudo e trabalho com pessoas surdas, contribuiu no entendimento e na evolução dos estudos que fundamentam o trabalho com pessoas surdas.
É importante pontuar que a língua de sinais já era utilizada pelos surdos desde a antigüidade, tendo sido considerada “a forma natural de comunicação dos sujeitos surdos”.
Certamente essa simbologia sofreu alterações desde então, porém, constato que ainda hoje, a língua de sinais não faz parte do universo de conhecimento das pessoas ouvintes (em sua grande maioria), dificultando e/ou limitando o contato social com a comunidade surda.
O paradigma da comunicação total trouxe, certamente, novo alento às pessoas surdas, pois envolve várias técnicas e práticas que podem ampliar as formas de comunicação . Porém, ainda há perguntas sem resposta: Por que os surdos devem se adaptar ao padrão ouvinte? Não será possível considerar a língua de sinais como uma forma de comunicação genuína?
Segundo Gladis Perlin, as produções da cultura surda se ampliaram hoje. Algumas produções culturais como a identidade., a diferença, a língua de sinais, a compreensão do sujeito ( surdo e ouvinte ), a poesia e a escrita da língua de sinais se adentram como questões necessárias à tradução da alteridade do sujeito surdo.
Neste sentido, os Intérpretes da Língua de Sinais ( ILS) são também intérpretes da cultura, da língua, da história, dos movimentos, das políticas, da identidade e da subjetividade surda.
No entanto, no que se refere à comunicação em que está inserido o ILS, se desenrola uma multifacetada problemática de interpretação e o conhecimento da diferença cultural influi sobre a qualidade da interpretação muito mais que a amizade ou intimidade.
Seu papel é ser intermediador da cultura surda e da cultura ouvinte. Em sua ação ambas as culturas influenciam, já que estes são os sujeitos do processo. A fidelidade da tradução ocorre na medida em que há profunda compreensão do outro, seus valores, realidades e representações culturais.
Transitar nas fronteiras culturais exige que se esteja preparado para afastar-se de posições de poder colonizador, de forma a assumir uma atitude de cumplicidade, consistindo na identificação com a cultura surda, de forma que a produção cultural surda se hibridize com o intérprete.
Pessoalmente, considero que a construção da sociedade inclusiva que tanto buscamos só é possível no momento em que nos dispusermos a romper com conceitos pré-concebidos e buscar um novo olhar sobre nosso semelhante. Isso se faz na medida em que o conhecemos. Portanto, universalizar o conhecimento sobre a história surda, sua cultura, identidade e a língua de sinais, contribuirá, certamente, para que possamos todos, surdos e ouvintes, conviver e nos comunicar integralmente. Nesta tarefa, o ILS poderá ser um aliado de ambos.

Nenhum comentário: